Opinião

O Papel Vital das Filarmónicas e a Urgência do Apoio Público

As filarmónicas desempenham um papel fundamental na preservação e promoção da cultura local, sendo uma das expressões mais vivas da Identidade Açoriana.

Presentes em praticamente todas as freguesias do arquipélago, as filarmónicas não são apenas agrupamentos musicais, são verdadeiras instituições culturais e sociais. Através da música, elas proporcionam a formação musical gratuita a crianças e jovens, promovem o convívio intergeracional e marcam presença em momentos importantes da vida local, como são exemplos as festas religiosas, os arraiais e outros momentos culturais.

O repertório das filarmónicas dos Açores reflete a diversidade e riqueza das tradições locais, misturando obras clássicas com música popular, marchas e temas do cancioneiro açoriano, assim como adaptações de temas contemporâneos. Esta versatilidade reforça a sua ligação com o povo, mantendo-se próximas dos gostos e vivências das comunidades locais.

Apesar do papel incontornável que estas instituições desempenham na dinamização cultural e social, o investimento público tem-se revelado insuficiente e, por vezes, irregular, comprometendo a sustentabilidade e o funcionamento básico das nossas bandas filarmónicas. As dificuldades financeiras sentidas por estas associações refletem-se em diversos aspetos do seu dia a dia, nomeadamente na aquisição e manutenção de instrumentos musicais, no pagamento de regentes, na renovação de fardamento, em deslocações a eventos, entre outras situações. Muitas bandas dependem quase exclusivamente do esforço voluntário dos seus membros e de pequenas angariações de fundos, o que limita imenso a sua capacidade de crescimento e continuidade.

Sem recursos adequados, enfrentam a possibilidade de encerrar as suas atividades, o que representaria uma perda irreparável para o nosso património cultural. Infelizmente, constata-se esta realidade no Faial, em que algumas destas coletividades estão em vias de encerrar, traduzindo-se num sinal muito preocupante e sem soluções à vista.

A recente reformulação do regulamento dos apoios da Câmara Municipal da Horta, promovido pelo atual Executivo, tem resultado num aumento dos problemas financeiros para várias dezenas de coletividades culturais e desportivas do concelho. Basta falar com dirigentes de filarmónicas, grupos folclóricos e clubes desportivos para percebermos que a mudança veio trazer consequências bastante lesivas para inúmeras coletividades, incluindo as filarmónicas. O que era difícil, ficou insustentável.

A falta de apoio contínuo do município não é apenas um obstáculo à cultura do Faial, é um sinal alarmante de esquecimento de um património vivo que molda a identidade da ilha e do arquipélago dos Açores.

As bandas filarmónicas não pedem gestos simbólicos, mas um compromisso verdadeiro. Precisam do apoio seguro da Câmara Municipal da Horta para continuar a formar músicos, preservar tradições e, sobretudo, manter a sua atividade.

Investir nas filarmónicas é cuidar da memória, da cultura e das pessoas que fazem dos Açores um lugar especial.